16 outubro 2011

Amiga...

No outro dia não te respondi à mensagem, desculpa… Fiquei a olhar para a tua pergunta “e contigo?” e o primeiro impulso foi dizer: “está tudo bem”. Mas era mentir. Não está nada bem. A bem dizer, está uma merda. Não faço mais nada senão trabalhar, chego a casa e penso no trabalho, não falo com ninguém, não me distraio com nada. Não fiz um único amigo nestes 10 meses. As pessoas perguntam-me se é bom viver no Porto, na grande cidade, cheia de coisas porreiras para fazer, e eu digo que sim… que grande léria. Porque a minha vida é só entre as duas margens da estrada da circunvalação, onde eu vivo. De um lado está o S. João, do outro estão os prédios onde fica a minha casa. Mais um bocadinho à frente está um centro comercial minúsculo onde faço as minhas compras. Semana após semana, não saio deste círculo. Antes ainda ia de metro até ao Marquês, que é das zonas mais degradantes no Porto, só para ir ao ginásio… mas já nem isso faço. É longe demais, não consigo fazer esse esforço. Mas por acaso até sinto falta dos mendigos que andam por lá, a berrar muito chateados com os cães deles, porque resolvem fazer um poio no passeio logo na hora que o semáforo da passadeira virou para verde (“anda Deco, filho da mãe, anda!!”). A semana inteira, só falo com as pessoas do hospital… mas não é realmente falar… é só aquele tipo de comunicação estritamente necessário… não se diz mais nada para além do que é preciso. Às vezes dou por mim a querer contar uma história engraçada disto ou daquilo, a propósito de sei lá o quê, mas se me atrevo a encadear uma frase na outra logo de seguida, ou a exceder um limite previamente imposto de 5 segundos, faz-se um silêncio tal à minha volta… mas não um silêncio de respeito nem de interesse… um silêncio que diz “fazias bem era se te calasses”, e eu inspiro profundamente, absorvo o calor humano da sala e, resignadamente, calo-me. Reduzo-me à minha condição de interna, sem opinião nem vida própria. Eu almoço quando os especialistas almoçam, vou embora quando eles vão embora, alinho no maldizer, compactuo com as intrigas, mesmo que não as entenda e que tenha que ouvir os dois lados diferentes da mesma história, eu não comento, guardo segredo que nem padre no confessionário, e ai de mim! Ai de mim que fale do que o outro disse a quem quer que seja. Resumindo, que já vi que estás com pressa: estou infeliz, amiga. Muito. Mas tenho emprego e ordenado ao fim do mês, e hoje em dia, quem é que olha ao resto?

21 maio 2011

Vácuo

Sou vazia. Não há nada cá dentro. Sou ar, sem vento. Não há turbilhão que mexa o meu mar. Não há gelo nem fogo que me abale os sentidos. Vivo nesta apatia de morte, é como se fosse leve, mais que a sombra dos meus fantasmas. Incapaz de tremer ou temer, quando o medo maior se oculta em mim. Adormeço e aí estou viva, consigo ter voz, sou humana. Canso-me, um cansaço tão grande, desisto, deixo-me cair no chão e abraço-me na solidão.

Estás longe, sempre longe! Distância infinita que nos separa, ideais que nos afastam! Merda de vida! Estou triste. Gosto de ti. Um relâmpago - troveja e chove. As gotas quentes escorrem pela face, turva-se a vista. Tudo se lava em águas de tempo. E de manhã, tudo igual, tudo apagado, sem rasto. A tempestade passou.

I'll try anything once