09 dezembro 2013

Diagnóstico

Estou sempre triste. Todos os dias, uma angústia constante sem fundamento. Não melhora, só porque não a consigo justificar. Cada vez mais me custa dirigir a palavra a quem quer que seja. Tenho medo da confrontação. Situações de convivência social, é uma corda ao pescoço. Quando falo, é para reclamar. Ou maldizer. Não regozijo com o azar alheio, só gosto de desviar a atenção de mim própria. A sombra é confortável. Sou feia, disforme, parca de inteligência, mal vestida e sem modos. Mesmo assim, vivo centrada em mim e na minha circunstância. Os que me rodeiam, perderam a paciência. Sem querer, magoo quem me ama, vou além do mau humor e quebro os limites do respeito. Sinto que os mergulhei numa névoa de indiferença. Até eu, não consigo mais viver nesta pele. Tudo é um problema complexo, o coração acelera em pânico ao mínimo inesperado, na ansiedade de enfrentar o desconhecido, por mais inofensivo que possa parecer. Não gosto do que faço, e já me esqueci do que gosto. Desisti do sonho, da ideia de um dia fazer o que quero. Benditas as crianças pela sua credulidade, pena que se desvanece com o passar dos anos, isso ninguém lhes diz. A alegria que me resta, vem em momentos escassos, curtos, pouco convicta e efémera. A toda a hora pergunto, o que aconteceu que me fez começar a sentir assim. Onde foi que se perdeu o sentido das boas coisas do dia-a-dia, e das pessoas importantes na vida. O que foi que me esmagou a esperança. Quando foi que morri por dentro.