12 setembro 2006

Tetani

2016. Data marcada para a próxima inoculação de Clostridium tetani.
Bem, não exactamente este, mas um parecido.

Hoje saí com o meu irmão para o suplício que nos assombra década a década.. bem.. não que tenham passado muitas, mas.. vocês entendem.
Centro de Saúde, tirar senha, esperar..
entrar, entregar cartões das vacinas, esperar..
chamada para o gabinete de enfermagem, sala 8, nada de enfermeiras à vista, esperar..
aparece a enfermeira, não é na sala 8, é na 7, mudar de sala, sentar, ataque de pânico do meu irmão (Oh não!! Esta mulher foi a que me tratou a unha encravada tão bem que quando cheguei à Alemanha tive que ser operado!! É uma bruta, uma louca!!), esperar..
a enfermeira chega. Eu e o meu irmão trocamos olhares receosos. Ela lê os nossos nomes. Ah são irmãos? Mas que bem.. Pergunta a idade ao meu irmão. 22. Pergunta a minha. 22.
Ah são gémeos? Que giro, não são nada parecidos.. Eu e o meu irmão trocamos olhares de gozo. É sempre a mesma conversa. Ora vamos lá então.. o braço esquerdo.. Enquanto se põe de costas a tirar as vacinas de um frigorífico parecido com um mini-bar, o meu irmão tenta fazer com que eu vá primeiro. Mando-lhe um olhar como quem diz Faz-te homem. Olha de relance para a agulha e quase que fica verde. Enquanto a agulha entra, contorce a cara como se lhe estivessem a tirar os órgãos para vender no mercado negro. Eu quase que me ria, se não estivesse consciente que a seguir ia eu.

Lembro-me de levar tantas vacinas em pequena e de não sentir nada!.. Parece que à medida que as pessoas crescem ficam mais medricas. Será? Talvez porque dantes as enfermeiras distraíam-nos de maneira a não nos apercebermos da agulha a entrar na pele. O que é que muda ao longo destes anos? Quando crescemos ficamos menos sensíveis à dor? Não! Só ganhamos é vergonha na cara.. e isso é a única coisa que nos impede de fazer uma birra, bater o pé e espernear, de modo a terem que nos agarrar e distrair, para conseguirem dar a vacina. Porque é que os putos têm direito a isso e nós não? O que é que nos torna indignos de tamanho privilégio? Descriminação.

Estamos para sair, só falta que a enfermeira acabe o seu interminável não-sei-o-quê no computador.. Irra, que tá difícil.. um dedo de cada vez, olha duas vezes para o ecrã antes de carregar na tecla e o dedo nem sempre acerta.
Entra outra enfermeira. Mais nova, simpática. Boas tardes. Boas tardes. Parece que vem ajudar a mais velha a desenvencilhar-se dos afazeres no computador. Ôba ôba, haja Deus!! Dá uma olhadela aos cartões.. algo de errado se passa com o meu. Vai buscar uns papéis com aspecto de legislação. Boa coisa não pode ser. Parece que agora as raparigas com mais de 18 anos têm que levar nova vacina da rubéola. O meu irmão sente que a vida lhe sorri. Fico eu verde. Vai engravidar nos próximos três meses? Não está nos meus planos. Céus, espero que não. Então leva já e fica descansada. Agora do lado direito.. Que bom. Mais alguma coisa? Sirvam-se, vá. Se aparecerem borbulhas pelo corpo todo como varicela, é normal, está bem? Perfeito. Estou tão feliz.

Saio do Centro de Saúde com a impressão de ter deixado os dois braços no gabinete com a enfermeira gorduchinha. Pode ser que a ajudem com o computador.

Para terminar a santa tarde, o meu irmão perde o telemóvel. Ironia da vida.

5 comentários:

Unknown disse...

Uma verdadeira aventura essa no cenro de saude...

KNOPPIX disse...

Mas será que existe alguém que gosta de levar injecções?????????

desculpeqqc disse...

lol
rico dia, mas só tu para me lembrares que também já devia ter por lá passado...

Andorinha disse...

Dei umas boas gargalhadas! Desculpa, sei que foi traumático...mas tens piada!

Teresa disse...

Obrigada andorinha! Se não acharmos piada a estas coisas estamos feitos, né? :)